Crônicas De Uma Mulher Selvagem

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As Crônicas de Uma Mulher Selvagem são publicadas uma vez por mês, entre um café e um chá, entre um dia de sol e 7 dias de chuva, entre a crise e a inspiração, enquanto vivo em Londres, a cidade que é um navio de culturas. As vezes eu falo daqui, as vezes eu falo dos sonhos, as vezes eu sou só impermanência. Mas o importante é que falo: o que digo para o mundo segue o instinto de que ninguém pode nos calar.

Se me perguntassem há dez anos atrás o que eu entendia por ser uma mulher adulta, eu responderia muito provavelmente que seria pagar minhas proporias contas, ter minha independência, querer construir uma família ou já ter uma família, estar bem resolvida e parar de usar meu único par surrado de tênis Allstar. Eu não percebi muito bem quando todas essas coisas foram acontecendo e de uma garota eu me tornei uma mulher. Só que não entendia se eu estava sendo uma mulher por inteiro. Eu era boa sendo uma mulher? Afinal, eu caia em muitas armadilhas. Elas me exigiam um corpo perfeito ou as vezes me iludiam com a ideia que eu tinha que ser boazinha, que eu deveria esperar pelo príncipe encantado, que eu deveria viver uma vida de restrições. Você já as sentiu? Elas também podem te enganar com um amor tóxico, com num relacionamento que não traz mais nada a não ser destruição ou podem silenciar a opinião que palpita no seu peito. Então elas dizem que o que você faz não é suficiente, que você não merece nada disso de maravilhoso que se esconde no fim do arco-íris, que você não deve se preocupar com os limites saudáveis entre você e o mundo. Elas comumente contam a velha história que você é só mais uma – não é nada de especial – que seus sonhos são irracionais, que o que você está sentindo não deve ser levado em consideração (isso é coisa de gente louca) e que você tem que se contentar com a normalidade mórbida que atravessa o sistema ao seu redor. 

Embora intelectualmente eu entendesse que meu modelo do que era ser uma mulher vinha de fora, de uma cultura que calou a nossa opinião por séculos, minhas experiências me faziam voltar para o mesmo lugar. O que eu precisava para acordar do pesadelo dessas armadilhas que se movimentavam como um labirinto no formato de um Ouroboros? Afinal, o que significava ser uma mulher? 

Em alguma das fissuras do meu passado, eu senti um cheiro que me fez lembrar o que em algum momento esqueci. Eu precisava desvendar uma sabedoria que não era secreta, mas que se perdeu. Uma sabedoria que eu não encontraria dentro da universidade. Uma sabedoria que não é lógica, mas que nem por isso é incompreensível. Uma sabedoria que as vezes se manifesta na pintura, na poesia, na floresta, no sol que toca seus dedos quando pela manhã, no amor que você tem por uma alguém que acalma sua mente e te faz querer amar o mundo, na coragem de leão que te faz rugir e proteger suas necessidades, na conversa que você tem com uma mulher mais velha ou mais nova. Uma sabedoria que não só mulheres conhecem, mas homens também. Uma sabedoria que atravessa as classes e os continentes. Assim eu encontrei um ecossistema de livros, pessoas e ensinamentos que me iluminaram algumas pistas. No entanto, eu descobri algo que muitas vezes tive vergonha. Algo que foi de alguma forma domesticado. Algo que eu mesma escondi de mim e dos outros. Descobri algo de selvagem correndo nas minhas veias.

As crônicas surgiram como um meio de expressar essa jornada. E acima de tudo, proporcionar reflexões do que se pode fazer para o sangue selvagem vicejar. Porque não basta só a encontrar, a natureza selvagem precisa ser nutrida, cuidada, amada, para suas flores rebeldes florescerem. A partir do que vivo, emergem sabedorias mais intuitivas do que racionais que a escrita ajuda a organizar, liberando o fluxo de consciência e a poesia que volta e meia se encontra com o sol ou com a lua. Meu objetivo é fazer os textos correrem soltos na paisagem da vida selvagem, para entender os detalhes dessa natureza, fortalecer sua narrativa, iluminar uma parte de ser mulher – e ser humano – que foi domesticada e que não traz verdade. Não traz sentido. Não traz maravilhosidade. Por isso, há histórias que precisam ser contadas e há aquelas que precisam ser vividas. Essas são as Crônicas De Uma Mulher Selvagem, palavras que seguem o instinto.

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Não faça nada

por Júlia Albertoni ✨ click here to read in English Talvez seja melhor você nem ler essa crônica. Melhor seria você não fazer nada. E se você está desconsiderando o conselho e continua a ler estas palavras, vamos ver se eu te convenço a não fazer nada mesmo assim. Tudo começou com a primavera, o…

Caminhe Pelo Lado Selvagem da Vida

por Júlia Albertoni ✨ click here to read in English Começo a escrever os primeiros esboços dessa crônica quando o metrô atravessa as terras pantanosas de Londres, o sol vai nascendo para preparar um céu molhado, ainda há resquícios da lua cheia que tomou café da manhã com a cidade, e a música “Take a…

A Jornada da Louca: livros inspiradores

Que livros você considera inspiradores? A Jornada da Louca é uma aventura divertida, Alice no País das Maravilhas com Harry Potter, mas enquanto escrevi o livro e pesquisei conceitos chave, inspirei-me numa bibliografia um tanto quanto excêntrica. Misturei histórias e filosofias. Juntei insights penetrantes do oriente, fábulas do ocidente, fatos históricos, mitologias bíblicas, sonhos do inconsciente, conversas…

E se… existisse um novo caminho?

☞ click here to read in English ☜ Há um ano atrás, eu comecei a comprar flores regularmente sem motivo especial. E há um ano eu venho me cercando de tulipas, rosas, jacintos, cravos, gerberas, phacelias, alstremerias, lavandas, mas nunca, nunquinha, de orquídeas. As orquídeas, coitadas, passavam por mim despercebidas, como fantasmas, porque eu simplesmente acreditava que…

O Que Nos Conecta

Nesta Crônica de uma Mulher Selvagem, falamos sobre conexão num mundo super conectado e ao mesmo tempo dormente. O que é conexão para você?

Sobre Mágica

Dessa vez, as ideias selvagens nos contam sobre os momentos que podem ser considerados mágicos.

Back in Brazil

The thing is that when we are in what is considered to be the centre we can understand the borders.

The Wild Substance

The wild blood that have had always been there. Her story made me think of when I published the very first chronicle of these series: I testimoned the wilderness of the moonlit territories in me finally getting out.

The Wonder Memory

Do you know the amazement when we feel something for the first time? It danced the music of the universe in my head, connecting myself to the planet earth in the most sensible and delusional way. I remembered the plants.

Summer Firefly

Sometimes understanding certain things is not a matter of reason but of feeling and yet we become adults and we ignore the sound of the bells.

Meu Primeiro Handstand

Quando escrevo essas crônicas, os aprendizados da vida selvagem, muitos dos mesmos ainda não tomaram forma, não podem ser categorizados, conceitualizados, organizados e expressos pelo mundo escrito. Por mais que eu me esforce, que eu diga que é a hora, é momento de os esclarecer, as vezes a sensação é que estou prendendo um pássaro…

As Flores e as Sirenes

Muitos me perguntam como estou durante o lockdown. Respondo que muito bem, vivo o privilégio de poder trabalhar de casa, morar com uma ótima companhia, viver num país politicamente estável – se é que posso afirmar que a política pode ser estável – e finalmente encontrar tempo para acomodar toda a energia que nos últimos…

O Palácio do Agora

Sigo a Kensington Road em direção ao Hyde Park e ouso sair do meu bairro pela primeira vez em 7 semanas. O que preenche os vazios urbanos é o perfume das flores de primavera no ar, camellias, daffodils, magnolias, bluebells, tulipas, wisterias… Passo o parque, o Wellington Arch, as árvores imensas do Green Park, chego…

O Guarda-Roupas de Plátanos / / The Wardrobe Made of Leaves

Last week I opened my wardrobe which is a little narrow door built-in in the wall of the flat that shelters me with so much peace and I realised that I still need new clothes and I still don’t want what is disposable. The new leaves from the trees, swinging back and forth, garnish as…

Uma Memória Rodopiante

Novamente estou no alto de Hampstead Heath, não exatamente agora, já fazem umas semanas, no momento caminho na minha cozinha para lá e para cá. Mas a memória é poderosa, posso ver a cidade de um lado suspensa por nuvens negras carregadas de chuva, recortando a London Eye, a Tower Bridge, os prédios modernos de…

Pedaços De Um Novo Tempo

Bebo meu café latte lendo pedaços fragmentados de uma crônica que há um semana tento escrever. É momento de dar coerência ao que logo mergulha no aroma de canela e cardamomo que transborda da minha xícara. Me distraio com as pontas dos meus cabelos extremamente macios, hidratados com puro óleo de Argan. Sinto-me sem palavras.…


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