Meus dedos são banhados pela luz da lua, a mesma que ficou cheia sexta-feira passada e fez os gatos pularem os muros, as pessoas sairem para os pubs, os olhos transbordarem de emoção. Felizmente ela fica pendurada na direção da janela do meu quarto hipnotizando quem está aqui dentro, lembrando do seu poder.

Há uns dois anos eu sonhei com uma pessoa em cima de uma montanha e um céu estrelado que me apontava uma lua imensa nascendo no horizonte enquanto o dia e a noite se fundiam numa paisagem selvática. Quando acordei tive a certeza de que eu precisava prestar mais atenção aos ciclos lunares. Não era assim que nos orientamos por séculos? Lua da colheita, lua da pesca, lua de ficar em casa protegida, lua de celebrar, lua de cortar cabelo, lua de amar. Foi assim que meu conhecimento astrológico foi além de um perfil no Personare, saiba que a lua passa trânsitos de aproximadamente 3 em 3 dias em cada signo da roda do zodíaco. A lua que banha meus dedos agora esteve cheia em Câncer no dia 10, por exemplo – e foi sob ela que eu escutei meu instinto maternal.
Pude sentir a magnitude dos seus raios prateados enquanto andava na sexta a noite entre o Green Park e a Royal Academy of Arts. Ela estava lá, iluminando o topo dos prédios para seduzir quem quiser que passasse. Mas eis que subindo as escadas do meu apartamento cuja direção também é voltada para ela que uma ideia nasceu dentro de mim tão naturalmente que no momento não tive a lucidez para compreender exatamente de onde nascia. O seu nascimento gerou a pergunta: e se eu visse meus projetos de vida como filhotes que precisam de carinho e atenção?
Quando eu falo <projetos> me refiro a qualquer coisa que desejo materializar. Eles não seriam bichinhos de pelúcia, não seriam plantas, não seriam animais, seriam meus filhos que estão vivos. Eu pari eles da mente e do ventre para o papel e a realidade. E o que aconteceria se eu realmente cuidasse deles? Protegesse? Amasse como uma mãe e um pai amam suas crias? Nutrisse? Acordasse cedo para atender suas necessidades? Como seria se eu afiasse minhas unhas de leoa para não deixar nada de negativo os atingir, nem mesmo os pensamento destrutivos que dizem que eles não são bons o suficiente, que eles não merecem, que eles não podem ter sucesso? Se eu me gabasse deles para quem quiser que eu encontrasse, enchendo meus olhos de amor? Porque as vezes eu deixo eles passarem fome. Eu deixo de os nutrir. Esqueço de dar abrigo, abraço, carinho, acolhimento, esqueço de ter paciência quando são ainda bebes, de sorrir quando precisam, de ter uma conversa sincera… eu esqueço de tudo isso…
Uma sensação morna invadiu meu corpo. Eu posso ser mãe e pai dos meus projetos, afirmei abrindo enfim a porta do apartamento. É um entendimento liberador. Dá um senso de responsabilidade, cuidado e carinho. Permite que eu os proteja do complexo demoníaco que tenta os matar diariamente. Possibilita que eu os defenda nas circunstâncias mais escassas. E o mais importante: me lembra de os ver como criaturas vivas, em crescimento, que precisam de amor, atenção e uma dose de disciplina.
Você pode estar se perguntando o que isso tem haver com o brilho da lua que toca meus dedos agora. É que só assim eu consegui compreender de onde essa ideia nasceu. Foi a aura prateada da lua que me disse para ser mãe dos meus projetos.

J.P.A.
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