Quem joga tarô usa constantemente a palavra “arcano” para se referir as cartas do baralho. Na verdade, o tarô é normalmente dividido entre “arcanos” maiores e “arcanos” menores, e muitos tarólogos utilizam apenas os maiores em suas práticas ~ eu falei durante muito tempo a palavra arcano sem me dar conta que eu não sabia o que ela significava.
Já “arquétipo” é um termo usado em outras áreas, especialmente na psicologia junguiana, e, no tarô, é usado para se referir ao contexto de cada imagem, que ilustra um arquétipo universal. Fiz um resuminho sobre cada um deles, para quem quer entender mais 😉 Espero que gostem!
O que é um arcano?
Encontrei sem querer uma explicação interessante sobre a palavra arcano no livro “O Código Sagrado do Tarô” [1] ~ só pra constar que o livro é uma viagem matemática que eu não entendi bem ~ e que tem relação com a alquimia (para entender sobre alquimia clique aqui). “Arcano significa uma operação secreta”, diz o autor, sendo que os alquimistas utilizaram o termo para designar a uma substância inacessível ao senso comum. Ou seja, é como se fosse um segredo, um mistério.
Segundo Paracelso (1493-1541) [2], arcano “é a substância dos corpos” ou melhor, “é abrir o livro da natureza” e talvez entender a verdade que vai além das palavras. Uma verdade que transcende. O termo também se relaciona a palavra grega arkhè, que significa origem, princípio e começo. Em latim, significa pequeno cofre secreto, usado para guardar jóias e objetos preciosos.
Podemos pensar que a metáfora que resume “arcano” seria um baú secreto cujo interior está cheio de jóias preciosas e para o acessar é preciso de um iniciado ~ aquele que tem a chave.
A chave, são as perguntas. As jóias, as verdades universais, ou arquétipos.
O que é um arquétipo?
Arquétipos são conhecimentos antigos e universais, um tipo de sabedoria atemporal. É como uma essência ou um princípio que explica uma verdade que atravessa contextos, tempos e mentes. Também podemos falar em “imagens primordiais”, como se nossos antepassados e as experiências históricas que nos trouxeram até aqui se acumulassem nos arquétipos, um aprendizado eterno e imortal.
Por isso, se tivermos uma máquina no tempo e voltarmos para o Egito Antigo, podemos tirar tarô para eles e eles vão entender. Se avançarmos 5 mil anos, também. E se formos para uma comunidade indígena no interior da Amazônia, igualmente. O entendimento dos arquétipos é universal porque é uma sabedoria acumulada no inconsciente coletivo através da soma das experiências da humanidade na vida terrena [3]. Além do tarô, existem outras sabedorias que dialogam arquétipos, como a Astrologia, pois cada signo pode ser considerado um arquétipo (veja a relação entre o tarô e o zodíaco aqui) ou até mesmo a literatura, cinema e seriados, pois cada personagem pode ser inspirado por um arquétipo.
É nesse sentido que o tarô é a arte de pensar por imagens ~ talvez há mais realidade numa imagem do que numa palavra [4].

1 – Livro sobre a geometria sagrada do tarô de Marselha, uma viagem do começo ao fim. Não sei se é a tradução do livro ou meu entendimento atrofiado de matemática, mas achei uma leitura complexa e sinceramente tive que reler diversas vezes. Chama-se “O código sagrado do Tarô”, escrito por Wilfried Houdoun.
2 – Médico e alquimista europeu que utilizava diversas explicações para saúde e doença, especialmente orientado pela teoria dos humores, derivada das experiências dos gregos hipocráticos.
3 – Quem estudou sobre isso e inclusive foi lá na alquimia para entender melhor o inconsciente coletivo foi o psicólogo Carl Jung ~ eu ainda quero ler algo dele, por enquanto recomendo o livro Jung e o Tarô, escirto por Sallie Nichols.
4 – Quem fala sobre isso é Joseph Campbell, em O Poder do Mito.
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