Era uma vez certo dia desses quando resolvi estudar mais sobre o que exatamente estava passando nos meus cabelos. Eu já era literalmente a louca dos rótulos de alimentos, mas não tinha a consciência que minha pele e couro cabeludo também estavam absorvendo coisas bizarras das fórmulas industriais. Comecei com uma fase low poo, que é bem famosa pra quem tem as madeixas cacheadas, outra fase no poo, até me libertar quase completamente da indústria dos cosméticos com qualquer ativo agressivo para o corpo e para a saúde do planeta e dos animais. Depois dos cabelos, fui descobrindo outras coisas: as maquiagens, os óleos, os esmaltes, os desodorantes, as pastas de dentes, essas coisas todas, que especialmente mulheres usam de montes todos os dias, tinham ingredientes altamente estranhos para a saúde do mundo.
Um pouco de química
Vou tentar explicar de uma forma simples, porque acreditem, entrar no universo do entendimento químico das fórmulas dos cosméticos é altamente complexo e obscuro, parece que a indústria esconde informações numa linguagem científica que só um expert consegue decifrar. Os componentes químicos da maior parte dos cosméticos e produtos de higiene industriais são poluentes – do nosso organismo aos oceanos. Cada tipo de produto tem sua diferença. Exemplo: no caso da higiene dos cabelos, os shampoos “massificados” (não sei bem como os chamar) tem em sua composição sulfatos – um tipo de ingrediente que limpa TUDO e mais um pouco. Parece ótimo? Humm… veja bem, se você tirar realmente tudo dos seus fios, também está retirando bactérias, nutrientes e óleos “próprios” que estariam contribuindo para a saúde e beleza natural deles. Resultado: cabelos mais ressecados ou mais oleosos.
Já os condicionadores “massificados” tem em sua fórmula dimeticones, silicones derivados da síntese do refinamento do petróleo com quartzo, que “encapam” os fios para que fiquem com aspecto “sedoso”, impedindo que eles adquiram seu controle de oleosidade natural. Eles formam tipo uma barreira de plástico. Só que o dimeticone não é solúvel em água, ou seja, não sai dos cabelos facilmente, deixando resíduos que ficam em contato com nosso couro cabeludo. E qual é a única forma de tirar completamente o dimeticone dos fios? Usar um shampoo de lavagem com sulfato. Ou seja, elaboraram um ciclo vicioso para termos enganosamente cabelos mais bonitos, mais brilhantes, mais bafônicos, só que não.
E qual a relação disso com a saúde do planeta? Os dimeticones, por exemplo, não são facilmente biodegradáveis. Geralmente, caem nos oceanos, na forma de moléculas difíceis de serem quebradas, entrando na cadeia alimentar dos animais marítimos, provavelmente (alguém que entende bem de química podia ajudar aqui, porque pelas minhas pesquisas, é muito difícil encontrar explicações claras). Os sulfatos também caem nos oceanos e são elementos tóxicos para a saúde dos animais. Outro exemplo clássico de cosméticos altamente poluentes são as pastas de dentes e cremes esfoliantes, que, em sua maioria, contém microplásticos que deságuam nas águas planetárias, depois na barriga dos animais aquáticos e aves que sobrevoam os mares.
É pela água que jogamos “fora” todos os ingredientes dos produtos cosméticos que usamos sem nem saber o que é (fala sério, alguém desconfia o que é sodium polyoxyethylene klauryl sulfate?), e é nos oceanos que os encanamentos das nossas casas deságuam de forma insustentável.
Tendo em vista que sim, a maioria dos cosméticos que eu usava desrespeitavam a natureza da qual eu faço parte, fui buscando soluções. E uma das principais coisas que conclui é que NÃO EXISTE um produto sem química. As pessoas muitas vezes associam a palavra “químicos” a algo automaticamente “do mal”. Não é bem assim, porque no limite, tudo é química: a química está nos produtos que se dizem “naturais” e está nos produtos “massificados”. Enquanto química é um conhecimento (desenvolvido pelos ocidentais a partir de um determinado século) que expressa através de uma lógica e uma linguagem específica a existência dos elementos do mundo.
Na minha opinião, até o artificial é natural, porque se não fosse, não teria sido criado no nosso ambiente, no planeta terra, por mãos e mentes humanas. Agora, isso não quer dizer que temos que manter padrões de consumo de cosméticos poluentes e nada sustentáveis. Só não adianta criar uma ideia de pureza que não existe… inclusive, óleos essenciais, ervas e outros produtos “naturais” também causam desequilíbrios se usados sem coerência e consciência.
Começando a usar cosméticos sustentáveis

O benefícios em trocar cosméticos “massificados/industriais” por soluções sustentáveis são muitos, mas um dos pontos que vale a pena ser destacado é que são, em sua maioria, mais baratos. Você não precisa comprar fórmulas chics “orgânicas” para fazer uma mudança sustentável. Por isso, minhas principais dicas para quem quer começar a trocar seus cosméticos e criar uma rotina de beleza mais sustentável, para o planeta, para o corpo, para o bolso, são:
Troque seu desodorante por leite de magnésia
Esse é a dica top número 1, porque realmente funciona. Sim, eu sei que parece que não vai, porque os desodorantes aerosol nos juram que são eficazes ao extremo (24hrs, 48hrs sem feder) mas o leite de magnésia, também chamado de hidróxido de magnésio, é realmente eficaz, para homens e mulheres. Como usar? Tem que comprar o leite de magnésia, geralmente se vende em farmácias, e passar embaixo do braço depois da higiene pessoal. Só isso. Ele é líquido, então dá pra por num recipiente spray ou roll on para facilitar o processo. Eu gosto de misturar nele 2 gotas de óleo essencial de melaleuca e umas 10 gotas de óleo essencial de patchuli ou lavanda, para dar aquele cheirinho gostoso, mas você pode usar outros óleos essenciais que gosta desde que sejam indicados para uso tópico. A melaleuca é especialmente ideal para esse caso, pois é antibacteriana e antifúngica.
Troque seu creme por vinagre de maçã
O vinagre de maçã ajuda a deixar os cabelos mais brilhantes, protege os fios, equilibra o Ph, melhora o frizz, ajuda no crescimento, auxilia no controle da oleosidade natural e um monte de outras coisas legais. Como usar? Tem que diluir 75ml de vinagre de maçã (orgânico) em 1 litro de água. Depois de lavar os cabelos, você passa um pouco da mistura e pode enxaguar ou não. Não fica cheiro. Acredito que esta técnica tenha melhores resultados se você já estiver trocando seu shampoo e outros produtos de cabelo por aqueles com fórmulas menos agressivas.
Troque seu creme esfoliante por borra de café
A borra de café é maravilhosa para a pele. Além de atuar como esfoliante, por causa dos pequenos grãos, o café tem um óleo próprio que tonifica e ativa a circulação. Como usar? Guarde a borra de café que usou para preparar a bebida e passa no banho, em movimentos circulares sob a pele, depois da higiene pessoal. Eu gosto de passar nos locais onde tenho celulites e no rosto, para ativar o fluxo sanguíneo. Deixa agir por alguns minutos e enxague bem. A pele fica macia, lisa e com um aspecto brilhante. O ideal é usar borra de café orgânico, já testei e o resultado é diferente.
Troque finalizador, creme e hidratante labial por óleo de coco
O óleo de coco é super versátil como cosmético. Ele tem suas propriedades específicas que hidratam profundamente a pele e os cabelos. Como usar? Para quem gosta de usar finalizador depois do banho, meia colher de chá de óleo de coco nas pontas hidratam os fios e dão aspecto maravilha aos cabelos, especialmente os cacheados. Para quem tem lábios rachados ou ressecados, ele tem propriedades anti-inflamatórias, e é só passar um pouco do óleo nos lábios em qualquer momento do dia. Para quem quer fazer uma hidratação profunda, uma umectação com óleo de coco mecha por mecha no cabelo ainda seco, deixando agir por uma hora, para depois lavar, é uma ótima ideia. Dá também para dormir com os cabelos umectados amarrados numa trança ou até ir fazer um exercício. O ideal, novamente, é usar óleo de coco orgânico, pois o coco não orgânico recebe toneladas de agrotóxicos nocivos, especialmente o proveniente dos países asiáticos.
Troque hidratantes e tônicos por óleos essenciais
Os óleos essenciais são extraídos por métodos específicos das plantas e tem propriedades terapêuticas e medicinais. A sabedoria das plantas é ancestral e em algum momento da nossa história recente perdemos muito disso, só que os óleos são poderosos para serem usados como produtos cosméticos, inclusive, vários deles são recorrentemente utilizados pela indústria em suas fórmulas. Como usar? Minha sugestão é pesquisar quais óleos você pode começar a comprar para trocar cremes e tônicos faciais. Geralmente, os óleos essenciais precisam ser diluídos em óleos vegetais (coco, abacate, oliva) para uso tópico. O mais coringa deles, para mim, é o óleo de lavanda, que pode ser passado no rosto como tônico facial antes de dormir (não deixa a pele oleosa, ao contrário), nos cabelos como finalizador, nas axilas como desodorante, nas acnes como tratamento, além de muitos outros usos.
Para consultar os ingredientes dos produtos que vocês estão usando, primeiro, comprem uma lupa para ler o rótulo e depois digitem cada um deles no site do EWG. Este banco de dados permite que você verifique o grau de perigo de determinados ingredientes para o corpo humano, através de fontes científicas.
No mais, que vocês tenham rituais de beleza maravilhosos e o mais livres possíveis!
Júlia
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