O tarô e sua história tem diversas teorias, algumas fantásticas outras bizarras, mas, dos egípcios à Atlantis, como ter certeza de onde ele veio? Busquei ser academicamente séria (mesmo acreditando em várias outras coisas intuitivas enquanto lia há) e pesquisei com o historiador Robert M. Place evidências que podem ajudar a entender parte de sua história, que se mistura com a história da alquimia e a história das próprias cartas de baralhos. Vamos lá?
As primeiras cartas do mundo…
Provavelmente foram chinesas por essa cultura ter inventado a produção de papel por volta do ano 200. Depois de muitos séculos, os mongóis unificaram parte da Ásia e da Europa oriental, promovendo a circulação cultural através do comércio. As cartas, populares entre os mercadores viajantes, chegaram então ao Oriente Médio e foram os muçulmanos que levaram o baralho chamado de mameluco para os europeus. Por volta de 1360 os europeus começaram a criar suas próprias cartas inspiradas no modelo islâmico.
Os trunfos
Entre 1410 e 1442, em Milão, Ferrara ou Bolonha, na Itália, o astrólogo Marziano da Tortona criou um baralho com dezesseis deuses clássicos, para ser jogado como adivinhação. Na mesma região foi criado também um baralho de cartas chamadas Imperatori, pintadas à mão e folheadas a ouro. Também há evidências que o pintor bolonhês Jacopo Sagramoro pintou catorze cartas para se unirem ao baralho comum de quatro naipes que ficou chamado de carte da trionfi.
Os tarôs mais antigos
Mas os baralhos mais antigos de tarô são o tarô Brambilla e o tarô Cary-Yale Visconti, criados por Filippo Maria Visconti com cartas com fundo folhado de ouro. O Cary-Yale tinha 67 cartas, das quais 11 eram trunfos mais ou menos como conhecemos hoje, incluindo a Imperatriz, o Imperador, os Amantes, o Carro, a Força, a Morte, o Julgamento, o Mundo e ainda três cartas que representavam a virtude-cristã: Fé, Esperança e Caridade.

Um dos mais completos desses tarôs antigos é o criado por Francesco Sforza, com 74 cartas, pintado e folheado, contendo todos os arcanos padrões, com exceção do Diabo e da Torre. E o mais completo e próximo ao modelo de hoje foi criado em Ferrara entre 1465-1500. Tinha 21 trunfos e um Louco, incluindo o Diabo e a Torre. Esse baralho, feito em xilogravura, pode ser visto no Museu de Belas Artes de Budapeste, na Hungria e no Metropolitan Museum, em Nova York.

Os jogos franceses
Da Itália, o tarô vai para a França, que passa a fazer suas próprias edições. O tarô mais antigo no estilo Marselha foi feito por Jean Noblet em Paris por volta de 1650 e o mais antigo publicado na cidade de Marselha é o tarô de François Chosson de 1627, enquanto o mais popular deles é o de Nicolas Conver, de 1760. Há tarôs franceses mais antigos diferentes no estilo, como o Catelin Geofroy, publicado em Lyon em 1557 e o Jacques Viéville, publicado em Paris no século XVII.

As cartas e a pedra filosofal
Foi Antoine Court de Gébelin (1719-1784) que criou as primeiras teorias herméticas (mágicas) sobre a origem do tarô, de forma que reforçavam seu argumento de que antes do existir mundo civilizado ocidental havia uma idade de ouro, onde as pessoas viviam na verdadeira sabedoria. Nas cartas de tarô, Gébelin entendeu que estavam representados hieróglifos e segredos egípcios que conduziam à verdadeira natureza e origem do mundo.
Enquanto isso, os alquimistas buscavam a pedra filosofal, a substância mais valiosa do mundo, e para isso tinham que encontrar a Materia Prima (elemento misterioso presente entre nós) e transformá-la pelo Magnum Opus (processo alquímico da Grande Obra). Os alquimistas se guiavam por um sistema filosófico da vida como um sistema de evolução: “todo mineral quer ser ouro, toda planta que ser flor e todo humano quer ser sábio”. Eram físicos, químicos, médicos, psicólogos e matemáticos da sua época que tinham o objetivo de transformar uma substância em outra através do processo de transmutação.
Court de Gébelin, em seus escritos, substituiu a ideia de Materia Prima pelo tarô, que seria a ferramenta definitiva para progredirmos e evoluirmos ao ouro espiritual. Quem continuou seus ensaios foi um amigo misterioso chamado conde de M., que se acreditava ser o conde Mellet.
Ambos escritores afirmaram que a origem do tarô era egípcia. No entanto, historiadores que escreveram sobre a história do tarô apontam que a cultura egípcia influenciou a cultura europeia e o simbolismo das cartas, mas não se pode afirmar que o tarô é egípcio. A influência da cultura egípcia é evidente na alquimia, pois os primeiros textos alquímicos, como o Papiro de Estocolmo, eram egípcios.
Finalmente o tarô adivinhatório
O astrólogo e alquimista Etteilla (1738-1791) foi o primeiro a realizar o vínculo entre alquimia e tarô através do livro Manière de se récréer avec un jeu de cartes nommées Tarot. Ele publicou o primeiro tarô “ocultista”, o Grand Etteilla em 1789. A editora Grimaud publicou suas ilustrações no século XIX em várias versões: neoclássico, egípcio e medieval, tornando-se o tarô mais popular daqueles tempos.

Os ocultistas passaram a expandir as teorias sobre o tarô e o francês Éliphas Lévi associou as cartas com o sistema místico judaico, a cabala. Paul Christian ligou mais evidências do tarô aos antigos cultos egípcios. Oswald Wirth desenhou outro tarô moderno baseado nos ensinamentos de Lévi. Todos estas ideias influenciaram a Ordem Hermética Golden Dawn nas ilhas britânicas.
Em 1909, Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith criaram um novo tarô que se tornou mundialmente conhecido, o Waite-Smith. Pamela foi a desenhista das cartas e Waite trouxe anotações para que ela desenvolvesse novas perspectivas para o baralho – eles incluíram muito mais elementos e símbolos alquímicos dos que já existiam, aproximando ainda mais o tarô, por fim, da alquimia e, porque não, da cultura egípcia e de outras influências míticas.

Será que deu pra entender um pouquinho mais da história do tarô? Depois da edição do Waite-Smith, emergiram, especialmente a partir dos anos 1960 e 1970, muitos outros baralhos e decks, chamados de contemporâneos e que tem tudo haver com o fluxo da cultura New Age. Hoje, existem inúmeros decks e o modelo-padrão de tarô, base dos estudos inclusive do psicólogo Carl Jung, é o tarô de Marselha.
Beijos Estelares
Júlia
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