Nos sítios arqueológicos espalhados pela região do Vale Sagrado no Peru me encantei com as relações cósmicas edificadas nas arquiteturas, muitas das quais, até hoje se mantém em pé. Os três animais sagrados são um destes resquícios mágicos. Cada um dos deles, segundo os mitos quéchuas, eram guardiões de um reino espiritual, chamados de pachas. Hana Pacha, o mundo de cima, era guardado pelo condor. Kay Pacha, o mundo do meio, pelo puma. Uku Pacha, o mundo debaixo, pela serpente.
Vi a serpente no Templo da Lua, em Quenko, dentro de uma caverna que tinha uma energia de morte (não literal), mas, como a cobra, que perde sua pele e renasce, a morte simbólica e o reino da vida-morte-vida era representada por esse animal. A serpente era a guardiã do submundo. Quando entrei na caverna, a minha direita, uma cobra magra e fraca estava esculpida na pedra e, ao sair, a cobra já transmutada, estava do outro lado, agora gordinha, bonita e pronta para viver outra vida.

O puma vi esculpido no antigo palácio de Inca Roca, localizado na região central de Cusco. Este animal representa o reino dos vivos, da força, da coragem, da ação e da consciência dourada, por isso era associado aos governos. A própria cidade de Cusco foi desenhada como se fosse um puma, já que era a capital do império e umbigo do mundo.


O condor vi na parte urbana das edificações de Machu Pichu, num templo construído sob uma formação de pedras naturais que parecem suas asas. Dentro dele, haviam locais para guardar múmias, como se o animal pudesse guardar os espíritos. O condor era o guardião do mundo do espírito, comunicador da paz e das estrelas.

As pequenas escadas encontradas em vários sítios simbolizavam os três níveis de existência. É preciso subir debaixo, do mundo da serpente, para viver o mundo do puma e finalmente alcançar as estrelas do condor.

Eu acho fascinante e expansivo a forma como várias culturas do mundo mitologizam os animais, de forma que o meio ambiente converse com a vida humana. E você?
Beijos numinosos
Júlia
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