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“Não seja antagônico ao mundo dos sentidos, Pois, quando você não lhe é antagônico, Ele pode vir a ser o mesmo que uma completa iluminação” (Seng-ts’an)
Depois de atravessar o véu da Sacerdotisa, A Louca entra num majestoso jardim. Ela observa os campos de trigo dourados, as árvores carregadas de romãs, o resquício do orvalho da manhã, os pássaros e abelhas, a água que corre cristalina entre as plantas… “Como é belo”, sussurra com um sorriso genuíno. Aproveitando os primeiros raios de sol do dia, caminha pela paisagem deslumbrante e se dá conta que passou tantas horas acordada meditando que está com muita fome e sede. Então ela corre até o riacho e bebe a água mais pura que já bebeu, hidratando seu corpo enfraquecido. Vê seu rosto refletido na água: olheiras profundas, cabelos desalinhados, pele seca do frio da madrugada…
“Bom dia, minha flor”, fala uma voz imponente fazendo a Louca desviar o olhar do riacho. Uma mulher encantadora está sentada num sofá que parece um trono confortável forrado de almofadas vermelhas requintadas. Ela veste um vestido leve porém sofisticado, bordado de cima abaixo num tecido cintilante. Uma tiara de estrelas enfeita seus cabelos dourados e combina com o colar de pérolas ao redor de seu pescoço. Seu olhar ofuscante penetra os olhos cansados da Louca com generosidade, enquanto diz: “Você está bem? Oh, você não parece nada bem, meu amor. De onde você vem?”.
Antes que a Louca pudesse responder, a mulher continua, “Do outro lado do véu, não é? Você deve estar com fome, sede e muito cansada. Posso sentir! Venha, meu jardim te nutrirá”. Ela se levanta do trono, pega na mão da Louca e caminha por uma trilha exuberante, até ambas chegarem numa mesa de bronze que apresenta um banquete abundante, com vários pães, mel, biscoitos, chás, suco de romã e frutas. “No meu jardim, todos se alimentam muito bem. Entenda que, para uma jornada feliz, é preciso cuidar do corpo, o templo do nosso espírito”.
A Louca se senta e come de tudo um pouco. “Está uma delícia”, ela fala contente, enquanto a mulher rega suas plantas com paciência e responde: “A natureza nos dá tudo, não é meu amor? Agora, é hora de você descansar um pouco. Venha”. A Louca acompanha a mulher até um gazebo de rosas e chão de pedras preciosas, onde há um sofá com pés dourados e almofadas de veludo. “Aqui, você pode dormir quantas horas quiser. Ao acordar, encontre-me perto do riacho”, diz ela entregando para a Louca uma camisola de renda e cetim prateado.
Deitada e aconchegada, a Louca observa a mulher se afastar e pergunta com curiosidade, “Espera um pouco. Você ainda não me falou quem é”. Ela se vira e diz graciosamente, “Eu sou a Imperatriz do reino dos vivos. Esse é meu jardim da criação. Agora, descanse meu anjo”. A Louca fica surpresa, pois achava que uma Imperatriz seria soberba, orgulhosa e arrogante, mas não consegue pensar muito mais que isso, pois o cansaço lhe puxa num sono profundo.
Ao acordar, ela não encontra suas roupas e parte à procura do riacho seguindo o som da água corrente, sem saber bem quantas horas dormiu. Ela encontra A Imperatriz podando suas plantas com cuidado, “Oh, você está aí. Dormiu bem? Agora você pode tomar um bom e revigorante banho”. Ela alcança para a Louca toalhas fofas e alguns frascos de vidro coloridos. “No frasco amarelo, sabonete líquido feito com óleo e sementes de uvas para esfoliar e limpar. No frasco vermelho, óleo de abacate para hidratar. No frasco púrpura, essência de jasmim para perfumar”. A Louca acena admirada. “Ah, já ia esquecendo”, complementa A Imperatriz ao se afastar, “Suas roupas estão limpas e penduradas no galho da nogueira do outro lado. Ali há uma penteadeira para você se ajeitar. Separei um brinco de pérolas e laços de cetim para seus cabelos. Quando acabar, encontre-me para o chá da tarde seguindo o riacho na direção oeste”. A Louca fica então a sós e toma seu banho deliciosamente, ouvindo os pássaros e acreditando que os líquidos dos frascos eram mágicos e reconfortantes.
Limpa, perfumada, descansada e se sentindo muito mais bonita do que quando chegou ali, a Louca encontra a Imperatriz e as duas tomam um chá de amoras com biscoitos de gengibre, chocolate e aveia. “Você é muito atenciosa comigo”, diz a Louca, “Obrigada”. A Imperatriz toma um gole do seu chá, fazendo sua tiara de estrelas reluzir, “Saiba, Louca, você tem que entender que a prosperidade e a abundância serão reais na sua jornada quando você se permitir experienciar. Não há limites para os prazeres se estamos em harmonia com a natureza. Veja, meu jardim me ensina isso diariamente, dele eu tiro meus alimentos, meus cosméticos, meus tecidos, minhas criações. Basta eu cuidar dele, com paciência e dedicação, que a riqueza é consequência da terra”.
A Louca respira profundamente e aprecia a brisa do fim da tarde secar seus cabelos. Ela se sente bem, nutrida, cuidada, radiante. “Mas eu não sabia que uma Imperatriz seria tão generosa”, diz com sinceridade. “Oh, a humildade faz parte da riqueza verdadeira. Eu e você, Louca, estamos grávidas do novo mundo. Para isso, precisamos ser cuidados, amados e harmonizados com nossa natureza. Meu amor não tem barreiras e espero que você aprenda com isso”.
Os últimos raios de sol se escondem atrás das montanhas. A Louca aproveita para passar a noite no jardim da Imperatriz e esta lhe dá vários livros para ler. Pela manhã, as duas tomam café e entre gargalhadas e conversas, despedem-se. A Imperatriz presenteia a Louca com um saquinho de biscoitos frescos, algumas folhas de chá e um frasco de óleo de rosas. “Lembre-se de sempre nutrir o corpo, a mente e o espírito. A beleza faz parte da vida”, são suas últimas palavras acompanhadas por um afetuoso abraço.
A Louca segue seu caminho por uma trilha estreita entre um campo de centeio sentindo um amor profundo. Ela entende que a grande lição da Imperatriz é perceber a abundância que provém da terra. A vida é uma planta que precisa ser regada diariamente, com beleza e carinho. Seus pensamentos estão felizes e calorosos, até ela avistar o castelo do imperador.
Palavras-Chave:
Fertilidade; Criatividade; Nutrição; Espírito; Corpo; Prazer; Sensualidade; Natureza; Animais; Amor; Maternidade; Gestação; Sementes; Abundância; Riqueza; Sucesso; Harmonia; Relação; Feminino; Poder;
Frase de Poder:
“Eu permito que minha alma floresça com amor”.
Livros Consultados:
O Homem, a Mulher e a Natureza, por Allan Watts, 1954
PRÓXIMA CARTA: O IMPERADOR
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