Júlia Albertoni

Dando início a série “livros” por aqui, nada mais maravilhoso que começar pelo transformador-de-vidas O Poder do Mito. É engraçado que, na segunda fase da faculdade, uma professora incrível passou uma parte dele para a turma que eu estava e eu, adolescente caótica com mil outras coisas mais importantes para fazer na vida como viver uma boa ressaca, deixei a leitura de lado. Fui reencontrar o livro por acaso ano passado, quando, já no meio do mestrado, estava estudando Roteiro e Arquétipos. Li O Poder do Mito em 3 dias e algumas horas, deitada no chão da sala, mergulhada no universo mágico que Joseph Campbell respondia a cada capítulo. Tenho a leve impressão que esse livro é um portal. Porque será que eu não li ele com 17 anos?

Joseph Campbell era um mitologista, escritor, professor e filósofo entre provavelmente outras coisitas mais que viveu entre nós até 1987. A vida dele é, para mim, fantástica, porque ele estudou os mitos e ritos de povos antigos e culturas diversas ao redor do mundo, encontrando conexões entre os mesmos. Da tribo navajo aos budismos. Os mitos, para ele, são a música do universo, “indícios para as potencialidades espirituais da vida humana”, sons da imaginação, pedaços de informação dos tempos antigos.

Eu não contei ainda, mas o livro não é exatamente do Joseph Campbell. É uma compilação de entrevistas e conversas feitas entre ele e um jornalista chamado Bill Moyers, publicado em 1988 (título original: The Power of Myth). A entrevista também foi gravada e se tornou um documentário de mesmo nome gravado nos estúdios de produção de Star Wars. Na real, o pessoal do cinema usa muito as obras do vô mágico Joseph para orientar seus roteiros, porque o audiovisual cumpre em partes a função que os mitos cumpriam um tempo atrás ao redor da fogueira. Hoje, o fogo é tecnológico.

O livro é dividido em oito capítulos: O mito e o Mundo Moderno, A Jornada Interior, Os Primeiros Contadores de Histórias, Sacrifício e Bem-aventurança, A Saga do Herói, A Dádiva da Deusa, Histórias de Amor e Matrimônio e Máscaras da Eternidade. As entrevistas abordam vários temas que Joseph escreve nas suas dezenas de outras obras publicadas, de forma facílima de ler, divertida e de alguma forma visceralmente profunda.

Mas afinal, qual o poder do mito? Só lendo para entender. Está passando por um fim de relacionamento? Alguém muito próximo da sua vida não está mais entre nós? A vida tá uma bad? Não sabe pra onde ir? Teve a maior decepção da sua vida? Está a mais de cinco anos indo na psicanálise? Tá bem na vida mas parece que tem um vazio profundo? Sente saudades que nem sabe do que? O Poder do Mito pode inexplicavelmente ajudar. É literatura do espírito mesmo. Um portal de entrada para olhar o mundo com outra perspectiva, mais generosa, mais atenta, mais viva e certamente mais desejosa de encontrar a bem-aventurança. Pareceu que me abriu a consciência para entender (depois de uma graduação e um mestrado em história) que realmente existem conhecimentos ancestrais que falam profundamente sobre a vida, sobre a morte, sobre a vida-morte-vida. Enquanto lia, parecia que estava com Joseph ali comigo na sala, batendo um papo, orientando-me nas confusões mentais que criei sem perceber. Talvez porque me faltaram mitos e ritos.

~ beijos numinosos