“Um bom malandro sabe que, se lançar alegremente uma bola em direção ao cosmos, ela será rebatida para ele. Talvez seja rebatida com força, talvez meio torta, talvez volte em uma saraivada de projéteis dignas de um desenho animado ou talvez só retorne no meio do ano seguinte – porém, mais cedo ou mais tarde, aquela bola será jogada de volta para ele”. (Elizabeth Gilbert)
A Louca se joga no abismo do desconhecido e dá início a sua jornada. A primeira pessoa que encontra no caminho é um homem que exala o infinito. O Mago lhe ensina sobre o estado de fluxo. Se O Mago pudesse expressar uma filosofia, contaria para A Louca que pode sentir a grande presença do Tao e repetiria as palavras de Huai Nan Tzu: “O Tao age misteriosamente e secretamente; não tem forma fixa, nem obedece a leis definidas (tse); é tão grande que jamais se consegue atingir o seu fim e tão profundo que nunca se consegue medir sua profundidade”.
O Mago compreende perfeitamente o mistério do fluxo da natureza, não só porque ele é natureza mas porque ele está em conexão com o grande mistério que permeia a experiência da vida. Assim, ele olha fixamente para A Louca, apontando os dedos para o céu e para a terra, segurando firme sua varinha mágica em frente a sua mesa de trabalho. Ele sabe o poder que seu olhar, espelho da sua alma, possibilita. A própria presença do mago é encantada. Todas as suas ações, pensamentos e palavras estão em estado de fluxo. Se ele olhasse o relógio nesse momento, poderia ver números repetidos. Se ele pensasse em alguém, esse alguém ligaria para ele no mesmo momento. Se ele quisesse ver um arco-íris, um arco-íris se formaria no céu hoje sem mais nem menos. Se ele pensasse em conseguir um novo emprego, receberia um e-mail oferecendo o que imaginou. O universo se comunica para que O Mago continue com seu estado mágico de existência. Ele é a personificação do estado de fluxo.
E assim está pronto para co-criar. Tem a sua disposição os quatro elementos do tarô, os mesmos da vida: as moedas (que representam a matéria), as copas (que representam as emoções), as espadas (que representam o intelecto) e os paus (que representam a força criativa). Com estes quatro elementos, o infinito é o único limite para suas ideias, projetos, intenções e inspirações.
Porém, ele sabe, do fundo do seu espírito, que a co-criação não vem de fora: ela nasce dentro do seu corpo, transformada pela serpente que enlaça sua cintura. É espontânea. Novamente, se pudesse contar para A Louca uma filosofia, falaria do conceito zen-budista de satori, o surgimento repentino, espontâneo e sem esforço de uma ideia. Não basta pensar para que algo aconteça, a co-criação que O Mago representa é aquela que emerge das profundezas da alma, das células, do ventre, porque seu movimento é duplo, de dentro para fora e debaixo para cima. Tem que ser sentida ao invés de desejada pela mente egóica limitada em controlar o fluxo incontrolável.
A essência dessa carta é a essência do universo e de nós, seres humanos, seres criativos desde o início dos tempos. A energia mágica da criação, que enlaça os mundos, está no nosso DNA, nas nossas células, no nosso coração. Todos somos criadores e artistas, contam-nos as primeiras pinturas nas cavernas. Porque muitas vezes esquecemos?
Por isso, O Mago fala para A Louca que ela não precisa se tornar uma mestre zen-budista para co-criar. Ela precisa apenas se deixar guiar pelos gênios da criação que vivem entre nós, humanas, mas que muitas vezes não lhes damos ouvidos porque estamos ocupados demais com a ordem mecânica das coisas. Acordar, comer, trabalhar, dormir. Os gregos e romanos acreditavam que existiam daimons criativos, elfos domésticos que viviam nas casas das pessoas e as ajudava nos seus trabalhos. “Temos gênios e não somos gênios”, diz O Mago para A Louca, “você deve confiar nessa força criativa que está além do seu corpo físico e que permeia o universo. Essa é a fonte da magia consciente. É dela que nos conectamos ao fabuloso estado de fluxo”.
A Louca é muito jovem e está apenas no começo da sua jornada. Parece complicado demais tudo o que O Mago quer lhe dizer. Ele então decide revelar sua verdadeira identidade: “Eu sou apenas um malandro, livre Louca. Um embusteiro, um mágico de rua. Mas isso não tira a verdade da minha sabedoria: o fluxo é para os malandros, porque permitimos que a vida aconteça fora do controle austero da mente. O grande segredo reside justamente em não controlar e jogar a bola com a paixão e a confiança de que vai voltar”.
Palavras-Mágicas:
Estado de Fluxo; Magia Consciente; Co-criação; Criatividade; Mestre; Gênios; Manifestação; Poder; Ação; Confiança; Energia Universal; Cosmos; Materialização; Força da ação e da paixão; Malandragem; A vida é um jogo; Espontaneidade; Inventividade; Habilidades; Centelha; Inspiração; Vontade; Conhecimento intuitivo da vida;
Frase de Poder:
“Sou a força da criação e da ação. Totalmente energizada e conectada ao fluxo espontâneo da vida co-crio minha realidade”.
Para entender melhor a energia do malandro, transcrevo um trecho divertido e esclarecedor do livro Grande Magia:
“A energia do mártir é sombria, solene, machista, hierárquica, fundamentalista, austera, intransigente e profundamente rígida. A energia do malandro é leve, matreira, transgênero, transgressiva, animista, insubordinada, primal e está em constante e eterna mutação. O mártir diz: Sacrificarei tudo para lutar esta guerra invencível, mesmo que isso signifique morrer esmagado sob uma roda de tormentos. O malandro diz: Então tá, divirta-se! Quanto a mim, estarei ali naquele canto, conduzindo uma pequena operação do mercado negro para tirar algum proveito da sua guerra invencível. O mártir diz: A vida é dor. O malandro diz: A vida é interessante. O mártir diz: O sistema é um jogo de cartas marcadas, onde tudo que é bom e sagrado sai sempre perdendo. O malandro diz: Não existe sistema nenhum, tudo é bom e nada é sagrado. O mártir diz: Ninguém nunca me entenderá. O malandro diz: Escolha uma carta, qualquer carta! O mártir diz: O mundo nunca poderá ser resolvido. O malandro diz: Talvez não… mas pode ser burlado. O mártir diz: Por meio do meu tormento, a verdade será revelada. O malandro diz: Não vim aqui para sofrer, amigo. O mártir diz: Antes a morte que a desonra! O malandro diz: Vamos fazer um acordo.”
Livros Utilizados:
A Grande Magia, por Elizabeth Gilbert, publicado em 2015
O Homem, a Mulher e a Natureza, por Allan Watts, publicado em 1958
WTF is Tarot?, por Bakara Wintner, publicado em 2017
PRÓXIMA CARTA: A SACERDOTISA
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